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Foto do escritorPipa Comunicação

O Brasil não chora por nós

Atualizado: 2 de mai.


Por Alma Flora


O que é este corpo?

Este corpo que você não consegue decifrar e te desafia a pensar

Este corpo que queima os seus neurônios

Este corpo que agride todas as normas cisgêneras já pregadas até aqui

Este corpo que carrega tanta política

Este corpo que constrói em cima da desconstrução e agride ao transgredir

Este corpo que cria inéditas formas de existir e ocupar

Este corpo que cria novas possibilidades de feminilidade e mulheridade

Este corpo ciborgue

Este corpo mutante

Este corpo estranho


Este corpo que transita numa cidade que para por um jogo de futebol mas não chora pelas nossas mortes, mesmo carregando nosso sangue nas mãos

Este corpo que transita na cidade maravilhosa que continua cada vez mais linda e opressora, mas sem aquele abraço porque lá vem o famoso enquadro

Este corpo que você olha torto nas ruas à noite quando você passa com seu carro do ano e

o menospreza lá do alto da sacada da sua cobertura


Este corpo que sempre carregou tanta beleza e por muito tempo não lhe foi permitido mostrar, mudar e transmutar

Este corpo que você teme apreciar

Este corpo que desperta a sua curiosidade e você o deseja

Este corpo que você acredita ser acessível e barateado mas que é caríssimo pela sua resistência e alta durabilidade, mesmo após tantas lesões e tantas quedas

Este corpo que não foi fabricado na China e nem no Paraguai

Este corpo que apesar de tudo, ainda vive

Sobrevive

Existe

Insiste

Transgride

Resiste

Este corpo que infringe todas as leis dos homens na cidade dos homens, no país dos homens, no mundo dos homens


O desconhecido sempre causou um misto de medo, curiosidade, repulsa, desejo, tesão, amor e ódio na sociedade

Tudo isso junto batido no liquidificador

Esse é o suco mais indigesto que eu já tomei na minha vida


O que me procura de noite é o mesmo que contribui para o nosso extermínio

Aqueles que já me amaram em quartos de hotéis sãos os que cospem no prato

que comem depois comem no prato que cospem

Todo dia morre mais de uma das minhas

Mas eu não serei queimada na fogueira

Meu corpo é meu escudo de coragem

Essa é a arma mais poderosa do meu arsenal

Não tenha medo, eles é que tem medo de nós

Você é muito mais feroz do que qualquer homenzinho torto numa vida torta,

numa casa torta e num caminho torto

O colonizador é pequeno

Você é gigante


O pisar dos seus saltos estremece

A sua presença é uma ameaça

Então use suas garras de rapina para tomar de volta aquilo que é seu

Junte seus cacos

Porque eu te quero viva

Eu te quero de pé

Eu te quero inteira, Alma Flora

Porque o mundo ainda precisa ouvir esse nome


 

Nós, da Iniciativa PIPA, acreditamos no “fazer junto”, por isso, disponibilizamos o BLOG DA PIPA para ser um espaço colaborativo e que se propõe a pensar as periferias por elas mesmas. E mais, queremos pensar e refletir sobre a relação entre as periferias e a filantropia, questionar porque os recursos não chegam e reverberar as resoluções que vem dos próprios territórios periféricos.


Acreditamos nos atravessamentos das realidades periféricas cotidianas que permeiam o Brasil de Norte a Sul e queremos contar essas histórias, emoções, dores e alegrias, porque a Periferia é Vida, com muitas dores, mas também, com muita risada, arte e saberes.


Então, se você tem um texto que reflete sobre os territórios periféricos, vem somar com esses conhecimentos diversos para juntos construirmos realidades potentes.


Envie seu texto e uma foto (do autor/a/e) para o e-mail: pipaacomunica@gmail.com

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